CHAMPS e os Ladrões de Cinema.

Em 2002, um aspirante a cineasta ganha prêmio para fazer o seu primeiro filme de curta-metragem. Um mundo de possibilidades se abre, não lhe restam dúvidas, aquilo que ele sonha para sua vida inteira, cinema. Estudo, pesquisa, tentativas e muitas realizações fazem parte desse longo caminho a ser percorrido. Tudo parece muito claro nesse percurso, porém, uma pergunta ainda estava sem resposta: Quem é esse ser que dá nome ao prêmio recém recebido? Quem é esse tal de Fernando Coni Campos? Quem é essa figura que batiza o prêmio de “jovem realizador“, ganho com muito suor e fé, motor que dará a partida inicial na trajetória de sonho e lucidez que viverá esse jovem de agora em diante?
Radiante com as possibilidades desse tão sonhado universo, o jovem cineasta vai à busca, num misto de curiosidade e pesquisa, para desvendar esse personagem que acaba de entrar em sua vida de forma tão brilhante. Com algum conhecimento à respeito do Neo-Realismo, Nouvelle Vague, Cinema Novo, Cinema Marginal, Embrafilmes e da tão falada Retomada do Cinema Brasileiro; como pode este jovem desconhecer esse nome? Personagem que ilustrou um prêmio e abriu inúmeras portas para um cinema possível, "aquele que se quer fazer, independente dos ditames da indústria, das regras estabelecidas, e também dos dogmas ideológicos”.

Ao iniciar a busca do homem por trás do nome, percebo que o grande prêmio que recebi foi justamente a possibilidade de enveredar na história, obra e idéias desse tal Fernando Coni Campos, artista cineasta que, mesmo estando freqüentemente fora das listas dos grandes ícones do cinema brasileiro, sempre esteve profundamente ligado a todo o processo de construção do que hoje chamamos com orgulho de “nosso cinema“.
No processo contemporâneo em que vivemos tudo é permitido, e o caos tenta se estabelecer quando todos estão à procura de uma linguagem própria. Descubro então que através da brilhante mente de CHAMPS (como lhe chamavam alguns queridos amigos), grande parte das buscas e inquietações já foram transformadas em palavras, poesia e, acima de tudo, cinema.
Acabo de receber outro prêmio, o DOCTV, e é por isso que escrevo nesse blog agora. Estou prestes a realizar meu primeiro documentário de longa duração...
Ainda não descobri quem é CHAMPS, nem ao menos sei se conseguirei, mas estou partindo da obra deste irreverente para perceber questões contemporâneas de um desejo criador, trabalhado com maestria pelo olhar desgarrado de um realizador que achou no cinema sua máxima fonte de expressão, conjugando duas grandes paixões, a palavra e a plástica, indo talvez ainda mais longe do que quase todo o cinema feito pelas novas ondas até então.
O documentário que inicio agora tem por objetivo investigar o universo das idéias e da obra do cineasta que em 2008 completa vinte anos de morte, sem a pretensão de esgotar um tema, mas sim de (re)descobri-lo através da curiosidade inerente ao jovem olhar, inquieto. Se afastando de um modelo biográfico de documentário, as idéias e personagens relevantes surgirão do sonho e lucidez de Coni Campos, sentidos e transformados por mim e por outros parceiros de cinema... A idéia do documentário é dar uma luz às muitas questões e inquietações dos que hoje buscam incessantemente uma nova forma de contar histórias. Roubaremos um cinema, sejamos ladrões...

Missão nº 1:

A partir de agora começo a pesquisa para o documentário, que se chamará “CHAMPS e os Ladrões de Cinema”. Inspirado em alguns parceiros de DOCTV, usarei esse blog como um diário de bordo, mas, sobretudo, como uma ferramenta de pesquisa. Como ainda não tenho muitas informações e materiais, gostaria de usar esse espaço para que os que se interessarem pela idéia possam fazer comentários, trazer informações, dar dicas de onde encontrar materiais de áudio e vídeo, indicar pessoas que conviveram com o Fernando... Ou seja, fazer parte da construção desse documentário, ser mais um ladrão de cinema... Pessoas como Guido Araújo e Tuna Espinheira, que podem estar lendo esse blog agora, por favor, dêem dicas do que procurar... (fora vcs, lógico!) Queria tb perguntas, dicas e desejos... de quem quer que seja...

P.S.: Blog é bom pq é ao vivo. To vendo “SideWays” na Globo (03:26hs), muito vinho... Se pudesse escolher, meu próximo filme seria com Paul Giamatti, adoro... Pinot Noir... Tem casca fina, precisa de atenção, e só os plantadores mais pacientes podem ter sua expressão total... Eu gosto de como o vinho pode evoluir... Como uma garrafa de vinho está viva... assim como o cinema...